José Aldyr Gonçalves

Escritos de ontem, de hoje e de amanhã...

Textos

A METÁFORA DE HOJE
Hoje, ocorreu-me uma nova metáfora.
E não lhe resistindo o pedido de publicidade,
eis que o faço, mesmo que piegas e redundante,
porém inevitável, pelo menos hoje:
A espinhosa flor do amor, daquele amor
que decorre de uma paixão verdadeiramente profunda, sangra...
Sangra, no exato momento em que duas pétalas juntas, em uma mesma flor, se desgrudam,
se descolam ou se uma delas ou ambas são despedaçadas de alguma forma.
Mas, mesmo sangrando, ela parece saber que não deixará nunca de ser a flor do amor,
e o tempo lhe cicatrizará, conforme seja o tamanho da hemorragia.
E é exatamente por despencarem da flor do amor,
que aquelas duas pétalas poderão fertilizar outros solos,
reaparecerem, juntas ou não, em outras espécies de flores
ou, simplesmente, serem lançadas ao vento,
rumo aos mistérios de uma terra de onde nada se sabe.
Mas permanecerá a flor, em sua essência, independente das pétalas que caíram,
assumindo a sua condição metamorfoseante de logo se fazer um novo botão
que na ironia cósmica da vida fará gerar outras flores que abrigarão outras pétalas,
em um processo cíclico de viver e amar, apesar da certeza dos espinhos.
Porém, sabe essa flor que para renascer
precisará ser sepultada em algum jardim por aí,
a fim de que o orvalho ou o temporal de lágrimas
que banham as duas pétalas caídas não se desperdicem
no mero pranto inevitável, mas que venham a lhe regar
a esperança de fazer brotar a graça posterior do ressurgimento,
que bem poderá ser a recompensa a se estampar
no sorriso de algum jardineiro vagante.
Afinal, a primavera ainda está por aí. Quem sabe, haverá tempo...


josealdyr@gmail.com
JOSÉ ALDYR GONÇALVES
Enviado por JOSÉ ALDYR GONÇALVES em 28/08/2020


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